António Mota, conhecido autor de literatura infantojuvenil, está a celebrar 45 anos de carreira. Falámos com o escritor e procurámos conhecer um pouco mais sobre as suas inspirações, livros e sonhos.
Como se tornou escritor de livros infantojuvenis?
Escrevi o meu primeiro livro, A aldeia das Flores, em 1979, já lá vão 45 anos….Nessa altura eu já era professor e gostava de ler e contar e contaler histórias aos meus alunos. Foi tudo muito natural.
De onde lhe surge a inspiração para escrever novos livros ao fim de tantos anos? As suas memórias da infância não se esgotam?
Não digo que a memória da minha infância não esteja nas minhas histórias, mas se eu só falasse desse tempo mágico, há muito tempo que me tinha calado. Escrever é imaginar, fazer de conta. Um livro que escrevi para os jovens chama-se Cortei as Tranças e quem narra é a Marta!
Num mundo cada vez mais virado para as grandes cidades, acha importante que os seus livros continuem a abordar temas da ruralidade?
Todos os temas têm seu cabimento, todos os ambientes são possíveis. Uma vez, um rapaz de Lisboa disse-me que um livro meu decorria num lugar estranho, mas fabuloso. Fiquei contente. E nem todos os livros têm ruralidade. Veja-se, por exemplo, o caso dos últimos e A minha Família, e O caracol e os Trevos, publicados pela ASA.
Ser professor e escritor é fácil de conjugar?
E ainda falta referir que fui autor de muitos manuais escolares! Neste momento já não leciono, estou aposentado. Foi complicado, intenso, absorvente, muito cansativo, mas soube-me bem.
Escreve tanto para crianças, como para jovens. Tem alguma preferência no público-alvo?
Não, não tenho. Com a idade o meu olhar começou a pousar nos mais pequeninos. Eles dizem coisas espantosas, poesia maravilhosa. E então desde que fiquei avô o olhar pousa ainda com mais atenção. Mas também escrevo para adultos. No Meio do Nada, publicado pela ASA, é para adultos. Sou escritor, ponto.
Costuma ir a escolas falar com os mais novos sobre livros. Qual a importância do contacto com as crianças?
Até hoje estive seguramente com centenas de milhar de crianças de Portugal e a viverem noutros países. São momentos muito gratificantes para todos. Guardo boas memórias e milhares de fotografias.
Como se consegue cativar os mais novos para a leitura numa era tão digital?
Pelo exemplo dos adultos e nunca pela não imposição de qualquer obra ou autor, por muito considerados e recomendados.
Reparei que não tem um site dedicado à sua obra. Não acha importante hoje em dia ter uma presença digital com uma página dedicada a si e às suas criações?
Não tenho, por preguiça e cansaço. Já imaginou a trabalheira para pôr no site quase cem livros, mais os sítios para onde vou? Tenho duas páginas no Facebook – António Mota e António Mota Escritor – e estou no Instagram. E há o site da Leya e a Wikipédia.
Tem algum projeto prestes a sair?
Sim, em Maio tenho livro novo. É um livro com trava-línguas originais. Chama-se Muito Serra a Serra da Estela, Nos dias 1 e 2, 15 e 16 de junho estarei a apresenta-lo no espaço da LeYa na feira do Livro de Lisboa.
Em Maio estarei em escolas de Cabo Verde, na ilha de S. Vicente.
Neste momento escrevo um romance para os jovens, será o 14° volume da coleção Biblioteca Juvenil António Mota, da ASA.
A título de curiosidade, já conseguiu criar a sua estufa para “semear e ver crescer alfaces, tomates e coentros”?
Gosto muito de ver nascer coisas. Ainda não tive tempo para a estufa, troquei-a pelo Santiago, Afonso e Lia, os meus netos com 8, 3, 3 anos . Para eles semeei e fiz crescer os livros Onde está a minha mãe?, A minha Família e O Caracol e os Trevos.
Sobre o autor
António Mota nasceu em Vilarelho, Ovil, concelho de Baião, em 1957. Conhecido escritor de literatura infantouvenil, foi professor do ensino básico. Em 1979 publicou o seu primeiro livro, intitulado A Aldeia das Flores, e não mais parou de escrever, tendo-se dedicado essencialmente à literatura infantojuvenil. É neste âmbito, aliás, que tem atualmente mais de 90 obras publicadas.
Recebeu vários prémios, dos quais se destacam o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1983) para O Rapaz de Louredo, o Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens (1990) para Pedro Alecrim, o Prémio António Botto (1996) para A Casa das Bengalas, o Prémio Nacional de Ilustração (2003) para O Sonho de Mariana (com ilustrações de Danuta Wojciechowska) e o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens, categoria “Livro Ilustrado” (2004), para Se eu fosse muito magrinho (com ilustrações de André Letria). Além disso, a sua obra O Sonho de Mariana foi escolhida pela Associação de Professores de Português e pela Associação de Profissionais de Educação de Infância para o projeto “O meu brinquedo é um livro”, lançado em 2005.
Em 2008 foi agraciado pela Presidência da República com a Ordem da Instrução Pública.
Em 2014 foi nomeado para o prémio ALMA por ser “um dos mais prolíficos escritores portugueses para a infância e juventude” e por a sua obra ter “a singular qualidade de ser ao mesmo tempo intemporal e universal”. A nomeação repetiu-se na edição de 2015 deste que é um dos mais importantes prémios internacionais na área da literatura infantojuvenil.
Colaborou com vários jornais e participou em inúmeras ações organizadas por bibliotecas e escolas superiores de educação.
Textos seus povoam diversos manuais escolares, dezenas de títulos da sua autoria estão recomendados pelo Plano Nacional de Leitura, um consta das Metas Curriculares do Ensino Básico e outros são referência da Internationale Jugendbibliothek de Munique, uma das mais conceituadas bibliotecas mundiais especializadas em literatura infantojuvenil. Algumas obras suas estão publicadas no Brasil e traduzidas em galego, espanhol, e sérvio.
Em 2019, ano em que comemorou 40 anos de atividade literária, publicou o livro para adultos No meio do nada.
Em 2023 foi inaugurada em Baião a Biblioteca Municipal António Mota.
Em 2024 ganhou o prémio AUTORES da SPA Melhor Livro Para A Infância E Juventude com o livro A minha Família.