Entrevista a Ana Markl, autora do livro “Onde Moram os teus macaquinhos?”

O nosso Camõestrinho esteve à conversa com a autora Ana Markl que recentemente escreveu o livro “Onde moram os teus macaquinhos”. A radialista estreia-se na literatura infantojuvenil com um livro sobre algumas das expressões idiomáticas mais curiosas e originais da língua portuguesa. 

Como começou o gosto pela escrita?
Começou quando era pequena com o gosto pela leitura. Lembro-me de ter vontade de escrever quando lia os livros da Alice Vieira ou a colecção Uma Aventura. Inventar histórias é um recurso muito importante para os introvertidos. Na adolescência, escrevia poesia, canções e peças de teatro. Inventava revistas de moda e de música. Foi, aliás, através do jornalismo que acabei por fazer da escrita a minha vida. 

Inventar histórias é um recurso muito importante para os introvertidos

O que a levou a lançar este livro para crianças?
Apesar de ter sido sempre orgulhosamente imatura, comecei a ter um interesse particular pela mente das crianças desde que fui mãe. E comecei a perceber que alguns produtos culturais dirigidos às crianças – canais de TV, livros, música- são concebidos sem o mínimo de respeito e cuidado pelos interesses dos miúdos. Ou são demasiado condescendentes ou feitos a martelo só para os alienar. A vontade de contribuir ou criar para este público tão incrivelmente desafiante é muita. Este livro foi o primeiro passo.


De onde surgiu a inspiração para um livro sobre expressões populares portuguesas?
Não foi uma inspiração, foi mesmo um convite da editora 2020 – mais concretamente da sua chancela Lilliput. O desafio era este: explicar a riqueza das nossas expressões idiomáticas com humor. É difícil fazer uma criança rir, mas não é assim tão diferente de fazer rir um adulto: temos de ser igualmente inteligentes, talvez um nadinha menos subtis e disparatados qb. Sobretudo, temos de nos divertir a escrever. As ilustrações da Christina Casnellie vão muito ao encontro do espírito despenteado que quis conferir ao livro. Tive de ter sempre em mente que, para ser realmente didáctico, o livro tinha de ser algo livre e louco – senão a mensagem não passa.

Na sua opinião como se desenvolve o gosto pela leitura numa criança na era digital onde tudo tem de ser imediato?
O mais importante é que a criança conviva com literatura, seja em que formato for e de que género for. Pais que gostam muito de ler não precisam de doutrinar, de impingir esse gosto. Basta exercerem-no, ou seja, lerem livros, conversarem sobre livros, como sempre o fizeram. A banda desenhada também é uma óptima porta de entrada. Antes de saber ler, eu olhava para os Astérix ou mesmo a Turma da Mónica e queria saber o que estava lá escrito. 

Acredita que o livro em papel tem os dias contados?
Temos de aceitar essa ideia, cada vez mais inevitável, de que o material tende a imaterializar-se. Já é uma realidade com a música e com os filmes, será cada vez mais também com os livros – e não há nada de mal nisso. Aliás, o planeta agradece. Se prefiro o objecto? Prefiro. Gosto de o ter, de o sublinhar, de dobrar os cantos das páginas. Mas isso é um problema meu, não é um problema deste tempo. Pelo contrário, acho importante que abracemos este tipo de mudança.

Ana Markl esudtou Línguas e Literaturas Modernas como desculpa para ler livros mas foi no jornalismo que pôs em prática a paixão pela escrita. Depois da imprensa, em publicações como o Blitz, o Sol e o Expresso, seguiu-se a televisão no Canal Q e finalmente a rádio, sua zona de alegre desconforto. Apresenta as Manhãs da 3 e o programa A Espuma dos Discos, na Antena 3.

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