Entrevista a Ana Luísa Silva: “Todos temos o direito a sonhar e concretizar os nossos sonhos”

A propósito do lançamento do livro “Qual o sabor das nuvens?”, da Editora Alfarroba, estivemos à conversa com a autora Ana Luísa Silva. Uma entrevista que nos leva pelo mundo dos sonhos e nos recorda a importância de estimular a imaginação das crianças desde o berçário.

Como surgiu a ideia para este livro?
“Qual o sabor das Nuvens?” é uma história que nasce da minha primeira e única viagem de balão de ar quente. Na vila de Coruche é muito comum vermos balões de ar quente  a flutuar no céu pois há uma empresa cá sediada, e tive o privilégio de ao longo de vários anos assistir ao levantamento de balões que participavam nos festivais de Balonismo. Como educadora de infância desenvolvi com os meus grupos de crianças trabalhos no âmbito desta temática pois era muito visível o interesse deles em que havia um misto de curiosidade e de magia… Assistir ao levantamento de balões de ar quente é uma vivência muito especial, algo tão grandioso que surge à nossa frente e UAU! ( a expressão mais usada pelas crianças nestas vivências). E houve a oportunidade de fazer com as crianças um voo estático que foi dos momentos mais bonitos que vivi na minha vida profissional em que tive o privilégio de estar com eles a concretizar o Sonho. Posteriormente tive a oportunidade de fazer o meu voo e foi uma vivência maravilhosa de onde trouxe muito do que está neste livro.

Todos temos o direito a sonhar e concretizar os nossos sonhos

Qual a principal mensagem que pretende transmitir?
Quando escrevi a história senti que a mensagem principal que queria transmitir é que é possível concretizar os nossos sonhos, e isso era influência da minha própria história de vida em que fiz a escolha de largar o certo pelo incerto para seguir o caminho na Educação de Infância em que eu acredito através de um projeto meu e que agora é de todos os que dele fazem parte e que prova que sim, é possível!
Mas faltava qualquer coisa para que eu sentisse que a história estava finalizada e o que faltava acabou por acontecer através de uma vivência que foi determinante. No Verão foi-me pedido para receber uma criança durante algumas semanas no meu grupo, essa criança tem uma doença rara e isso para mim foi assustador, eu queria aceitar o desafio mas tinha receio de não conseguir dar-lhe as mesmas vivências que dava ao grupo. Mas, mesmo com os meus receios, avançámos e todo o grupo se organizou para recebermos este nosso amigo e com ele vivemos semanas maravilhosas de vivências especiais, de interajuda, de partilha e com ele desenvolvemos um projeto muito especial a que decidimos dar o nome de “Todos Diferentes e Todos Especiais”, que foi a maior aprendizagem para todos nós ( eu, grupo, famílias, equipa). E era o que me faltava para finalizar a história… Todos temos o direito a sonhar e concretizar os nossos sonhos… Para os sonhos não há limites, nem limitações. A personagem principal, o João, é uma criança com mobilidade reduzida que se desloca em cadeira de rodas, mas o foco não é isso, o foco é uma criança que quer concretizar um Sonho.

Como educadora de infância, sente que é importante trabalhar a questão dos sonhos nas crianças mais pequenas?
Para mim como educadora de infância as histórias são um recurso fundamental, e na minha opinião devemos promover o contato com as histórias e os livros desde o berçário. Na minha sala todos os projetos que desenvolvo começam com uma história, momentos de contar histórias são sempre momentos de estar, muito enriquecedores para todos. As histórias permitem-nos desenvolver em simultâneo todas as áreas de conteúdo, permitem-nos abordar várias temáticas e, muito importante, as histórias levam-nos para o mundo dos sonhos, para o mundo da Imaginação… e Infância onde não se alimente a Imaginação não será uma Infância feliz e todas as crianças têm o direito de crescerem felizes.

Como tem sido a reação das crianças ao livro?
Quando recebi o livro os primeiros a conhecê-lo foram o meu grupo de crianças de 4/5 anos. Comecei por lhes mostrar a capa em que eles identificaram o Balão Mágico ( nome que dão ao balão de ar quente). Quiseram logo saber o nome do menino e quando comecei a partilhar a história havia um misto de olhares curiosos e surpreendidos. No final a conversa focou-se nas formas das nuvens com as partilhas deles de formas que já observaram, e finalizaram a dar as respostas deles de “Qual o Sabor das Nuvens”. E, curiosamente, começaram com respostas muito concretas, mas com o decorrer da partilha começou a surgir a Imaginação e finalizámos com as nuvens a saber a “ gelado de frango assado” ( Bernardo 4 anos). O grupo também revelou muito interesse pelas ilustrações, pelas cores, pelos pormenores e, através das mesmas, fizeram leituras deles associando às suas próprias vivências.
E foi curioso observar nas brincadeiras deles, quando estávamos no exterior, a descobrirem formas e sabores  de nuvens. Também tive um episódio , relatado por uma mãe, de uma criança que poucos dias foi viajar de avião e quando o avião vai perto das nuvens ela diz  , em tom bem alto, “ Olha as nuvens da Ana Luísa”, e para  mim esta é a parte mais especial de toda esta aventura: a história deixa de ser minha e passa a ser nossa.

Se a leitura for feita com imaginação, com amor, todos conseguem voar e flutuar até às nuvens no balão mágico.

E a reação dos pais e educadores?
Em relação as pais, os do meu grupo, identificaram muito de mim e do grupo na história até porque as famílias sendo os nossos principais parceiros também vivem os projetos de sala. De outros pais que adquiriram o livro para os seus filhos o feedback foi positivo e foi muito importante perceber que também eles adultos conseguiram fazer esta viagem e torná-la sua.
Em relação aos educadores também foi uma história bem aceite, quer o texto como as ilustrações que têm sido muito apreciadas e que realmente são fundamentais para nos levar nesta viagem tão Especial… A Maria João Victorino conseguiu ir mais além e é curioso como alguém que nunca viveu esta experiência de voar num balão de ar quente consegue expressá-lo de uma forma tão enriquecedora que permite ao leitor vivenciar esta experiência. Se a leitura for feita com imaginação, com amor, todos conseguem voar e flutuar até às nuvens no balão mágico.

Estão previstas ações de promoção do seu livro em escolas e bibliotecas?
As ações de promoção estão previstas onde queiram fazer esta viagem… já estive em escolas, e bibliotecas, num ATL. Outro local que gosto muito é em Centros de Dia/ lares pois adoro partilhar com os “ avozinhos”, pois lembra-me muito uma vivência que acredito que foi aquela que plantou em mim este gosto pelas histórias infantis, que era quando minha avó Custódia me contava histórias que tinha guardadas na sua memória pois ela não sabia ler. São vivências que fazem parte da minha infância feliz, aquela que acredito que todas as crianças merecem ter. Para mim as ações de promoção são as histórias depois da história pois permitem-me partilhar mas também receber partilhas daqueles que me ouvem e que comigo fazem esta viagem… São momentos dos quais trago sempre muito e que é um privilégio vivenciar.


Tem ideias para outros livros?
A escrita de histórias começou porque, como referi, todos os projetos de sala que desenvolvo com os meus grupos começam com uma história. O que começou a acontecer é que como os projetos partem dos interesses das crianças começou a haver temas em que eu não encontrava histórias, como o exemplo dos balões de ar quente, o Sobreiro (símbolo da nossa vila) e tantos outros e por isso mesmo comecei a escrever algumas histórias  que eram apenas nossas mas que um dia  resolvi dar este passo de partilhar com o Mundo e realmente é uma Aventura muito especial. Por isso, agora que a gaveta se abriu vamos ver o que se segue até porque eu sou uma eterna sonhadora…

As Nuvens não sabem sempre ao mesmo

E a pergunta final… Afinal a que sabem as nuvens?
As Nuvens não sabem sempre ao mesmo, há dias que sabem a amor, outros dias a salgado de lágrimas, ou a gomas de beijinhos, ou a remédio para a tosse, mas muitas vezes sabem-me a obrigada (gratidão por viver estas maravilhosas aventuras)

Sobre a autora
Ana Luísa é uma mulher, mãe de 2 rapazes, “namorida”, educadora de corpo e alma e coração… muito sonhadora!!
É muito apreciadora de literatura infantil, pela simplicidade aparente mas que depois tem mensagens incríveis. O gosto pelas historias começou na infância com a história que a sua avó Custódia lhe contava: “Corre, corre cabacinha”. Mais tarde, na sua formação como professora de 1º ciclo, renasceu este gosto por ouvir e contar histórias, altura em que se questionava sobre como pôr as crianças a ler e a escrever sem antes as motivar. Nessa altura, as histórias passaram a assumir se como uma estratégia que utiliza em todos os projetos de sala, pois descobriu que lhe permitiam explorar todas as áreas, despertando os sentidos e o sentir, estimulando a imaginação.

Nota:
No caso dos livros vendidos pela autora, 0.50€ revertem para o Projeto CRIC em Coruche.

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